por equipe
Uma vez eu e Pedro estávamos doentes. Poly foi lá pra casa e fez sopa de legumes pra nós dois. Sopa de legume é amor.
Amor são pequenas moléculas que dançam percorrendo caminhos entre um corpo e outro.
O amor é fumo de um suspiro em chama
Que faz brilhar os olhos de quem ama.
Têm sido assim os meus dias. Sou mais feliz que 97,6% da humanidade, nas contas do professor Schianberg. Faço parte de uma ínfima minoria, integrada por monges trapistas alguns matemáticos, noviças abobadas e uns poucos artistas, gente conservada na calda mansidão à custa de poesia ou barbitúricos. Um clube de dementes de categorias variadas, malucos de diversos calibres. Gente esquisita, que vive alheias nas frestas da realidade. Só assim conseguem entregar-se por inteiro àquilo que consagram como objeto de ulto e devoção. Para viver num estado de excitação constante, confinados num território particular, incandescente, vedado aos demais. Uma reserva de sonho contra tudo que não é doce, sutil ou sereno. É o mais próximo da realidade que podemos sustentar, sustenta Schianberg.
Não sei que nome você daria a isso.
Bom, não importa muito, chame do que quiser.
Eu chamo de amor.
Amor Cristão
(Marcelino Freire)
Amor é a mordida de um cachorro pitbull que levou a coxa da Laurinha e a bochecha do Felipe. Amor que não larga.
Na raça. Amor que pesa uma tonelada. Amor que deixa. Como todo grande amor. A sua marca.
Amor é o tiro que deram no peito do filho da dona Madalena. E o peito do menino ficou parecendo uma flor. Até a polícia chegar e levar tudo embora. Demorou. Amor que mata.
Amor que não tem pena.
Amor é você esconder a arma em um buquê de rosas. E oferecer ao primeiro que aparecer. De carro importado. De vidro fumê. Nada de beijo. Amor é dar um tiro no ente querido se ele tentar correr.
Amor é o bife acebolado que a minha mulher fez para aquele pentelho comer. Filhinho de papai. Lá no cativeiro. Por mim ele morria seco. Mas sabe como é. Coração de mãe não gosta de ver ninguém sofrer.
Amor é o que passa na televisão. Bomba no Iraque. Discussão de reconstrução. Pois é. Só o amor constrói. Edifícios. Condomínios fechados. E bancos.
O amor invade. O amor é também o nosso plano de ocupação. Amor que liberta. Meu irmão. Amor que sobe. Desce o morro. Amor que toma a praça. Amor que de repente nos assalta. Sem explicação. Amor salvador. Cristo mesmo quem
nos ensinou. Se não houver sangue. Meu filho. Não é amor.
(Vinicius de Moraes)
O amor é o carinho,
É o espinho que não se vê em cada flor.
É a vida quando
Chega sangrando aberta
em pétalas de amor.
(Roberto Carlos)
Diferente da paixão
O amor é um sentimento
Está acima da razão
E do passar do tempo.
(Caio Fernando Abreu)
Os poetas mentiram pra mim, Roberto Carlos mentiu para a gente. O amor não é manso assim. Ele pega, invade e devora a gente.
(Carlos Drummond de Andrade)
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
[...]Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
[...] amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.
(Carlos Drummond de Andrade)
Se você sabe explicar o que sente, não ama, pois o amor foge de todas as explicações possíveis.
(Fernando Pessoa)
Amar é cansar-se de estar só: é uma covardia portanto, e uma traição a nós próprios (importa soberanamente que não amemos).
(Fernando Pessoa)
Nunca amamos ninguém. Amamos, tão-somente, a ideia que fazemos de alguém. É a um conceito nosso - em suma, é a nós mesmos - que amamos. Isso é verdade em toda a escala do amor. No amor sexual buscamos um prazer nosso dado por intermédio de um corpo estranho. No amor diferente do sexual, buscamos um prazer nosso dado por intermédio de uma ideia nossa.
(Fernando Pessoa)
O amor romântico é como um traje, que, como não é eterno, dura tanto quanto dura; e, em breve, sob a veste do ideal que formámos, que se esfacela, surge o corpo real da pessoa humana, em que o vestimos. O amor romântico, portanto, é um caminho de desilusão. Só o não é quando a desilusão, aceite desde o princípio, decide variar de ideal constantemente, tecer constantemente, nas oficinas da alma, novos trajes, com que constantemente se renove o aspecto da criatura, por eles vestida.
Amor de Verdade
(Marcelino Freire)
Não é o amor o que une as pessoas. Sentimento abstrato este. Ave nossa! Não. Não é o coração que bate o olho e que escolhe.
Vejo esta foto, de meus pais. Cada um em sua juventude. Aqui, numa mesma pose à minha cabeceira. Duas vidas que se irmanaram.
Não foi o amor, repito, quem fez isto. O amor é invenção. Os dois aí não tinham tempo para floreios da imaginação. Nenhuma palpitação.
O que une as almas é o respeito gêmeo. E mútuo. A cumplicidade. A companhia. A amizade. A paciência. A crença de que, somados, burlaremos qualquer destino.
Vão dizer: e não é o amor, afinal, quem faz este milagre, etc. e tal?
Não, não é. É a realidade que faz o sonho, de verdade, acontecer.
Doa a quem doer. Um ao lado do outro, para sempre.
Fica mais fácil viver.
Dos Três Mal Amados
(João Cabral de Melo Neto)
O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato.
O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço.
O amor comeu meus cartões de visita, o amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.
O amor comeu minhas roupas, meus lenços e minhas camisas,
O amor comeu metros e metros de gravatas.
O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus.
O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.
O amor comeu minha paz e minha guerra, meu dia e minha noite, meu inverno e meu verão.
Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.
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