Por Louise de Lemos - Dramaturga
Era final de ano e as ruas estavam cheias. Lotadas de gente. Aquela época que parece que as pessoas se multiplicam. Um calor da moléstia. Saí pra vender água no centro da cidade, na véspera de Natal. Os afobados de última hora correndo, subindo, e descendo ladeira cheios de sacola, chegava a ser engraçado. E eles tomavam água, e eu fazia dinheiro. E a pequena ali. E eu sorria. A cada afundada da mão no isopor era um alívio que refrescava a ardência no estômago só de ver aquele sorriso. E era um tal de “toma água, tá calor, é promoção, e tá barato” e pisca-pisca. E ela ali do outro lado da rua com a promessa da minha vida inteira rodando naquele peão da Frozem, promoção 2 por 10. Ela e o marido. Minha alma inteira congelada naquela frozem. Naquele mar de gente, eu tentando acertar a conta do troco e aquela desgraça de rosto perfeito me provocando com aquele sorriso mais derretido que o calor do meio-dia. Eu nem escutei quando baixou o rapa e a correria nas ruas era meu sangue correndo na contramão das veias e a única coisa que eu pensei foi me derramar. Inteira, todinha na GCM e quando o marido correu levando os peões todos, eu só rodei foi sobre ela. puxei a mão dela, a GCM molhada e nós duas eu não preciso nem falar, que entramos por um beco. E correu marido, GCM, água e peão. Nada mais importava. Era só ela. Minha pequena. Corremo o mundo sem saber de nada.
コメント